terça-feira, 22 de abril de 2008

Cupido por um dia

Lucy veste sempre cor-de-rosa
quando os sonhos lhe invadem a prosa,
mas é quando o silêncio a leva a sonhar demais,
que a imprevisibilidade ganha contornos reais.

Um dia, sentiu os pés sem chão
num arremesso de sonhos em ebulição
e já lá no alto de asas bem abertas
achou-se cupido e começou a lançar setas.

Pobre Lucy, encantada com um desígnio quase divino
não sabia cravar no amor o seu maior desatino
e em cada alma que acertava
uma fenda no corpo esburacava.

O último levou com a seta no pescoço
pobre coitado que amava até ao osso,
vingativo, crente de ser já alma perdida
em alma voou até Lucy e deu-lhe igual despedida.

(As asas de Lucy ainda hoje voam
e o espectro crava bem fundo o desgosto,
também dizem que as setas nunca se encontram
e que até a morte e os anjos do mal juntos, assombram.)

2 comentários:

Paulo Stenzel disse...

Sem dúvidas, o mais sombrio de todos. Denso. Tenso. Excelente.

Ana Ribeiro disse...

I Love Lucy!!!